Outra sabedoria, outro saber, outro sabor

Junho 24, 2008

1. O Livro do Êxodo apresenta-nos um Deus surpreendente, voltado para nós, atento aos nossos problemas e deles sabedor, e que acode aos nossos gritos, mesmo que não os tenhamos dirigido a Ele. Leiamos com atenção este texto espantoso:

«23E aconteceu que, decorrido muito tempo, morreu o rei do Egipto. Os filhos de Israel gemiam debaixo da servidão, e clamaram, e o seu grito de socorro desde a servidão subiu a Deus. 24ENTÃO Deus OUVIU o seu gemido, e Deus RECORDOU-SE da sua aliança com Abraão, com Isaac e com Jacob. 25Deus VIU os filhos de Israel, e Deus SABE» (Ex 2,23-25). Leia o resto deste artigo »

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Deus fala em nós

Junho 24, 2008

1. Refere acertadamente a Constituição Dogmática Dei Verbum que, «para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria» (n.º 11).
Este expressivo modo de dizer remete-nos para a finíssima lição do Prólogo da Carta aos Hebreus, onde lemos:

«1Muitas vezes e de muitos modos, antigamente, falou Deus aos pais nos profetas (en toîs prophêtais); 2nestes dias que são os últimos, falou-nos em um Filho (en hyiô)» (Hb 1,1-2). Leia o resto deste artigo »


Entrelaçados na missão d’Ele

Junho 24, 2008

1. Na tarde daquele primeiro dia da semana, o Ressuscitado convoca-nos para a missão nova e frágil da paz e do perdão e do sopro criador:

«21Disse-lhes então Jesus outra vez: “A paz convosco! Como me enviou (apéstalken) o Pai, também Eu vos envio (pémpô)”» (Jo 20,21). 22E tendo dito isto, soprou (enephýsêsen) e diz-lhes: “Recebei o Espírito Santo. 23Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, serão retidos”» (Jo 20,21-23).

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JESUS, SANTUÁRIO DE DEUS PARA O HOMEM

Junho 24, 2008

Esta XXX Semana Bíblica Nacional tem como pano de fundo o tema genérico «O SANTUÁRIO, ESPAÇO DE EVANGELIZAÇÃO». Dentro desse horizonte, o dia de hoje é presidido pelo grande texto do Evangelho de João «E O VERBO FEZ-SE CARNE (Kaì ho lógos sàrx egéneto) E HABITOU (eskênôsen: aor. de skênóô / shakan) ENTRE NÓS (en hêmîn), e nós VIMOS (etheasámetha: aor. de theáomai) a sua GLÓRIA (tên dóxan autoû)» (Jo 1,14), que todos os comentaristas lêem no seguimento-cumprimento da comunicação de Deus a Moisés no Sinai: «Farão para mim um SANTUÁRIO (miqdash) e EU HABITAREI (shakan) no MEIO DELES (betôkam)» (Ex 25,8), e do discurso da Sabedoria: «Aquele que me criou fez repousar a minha HABITAÇÃO (tèn skênên mou), / e disse: “em Jacob instala a tua HABITAÇÃO (kataskênóô)”» (Ecli 24,8)[1].É neste trânsito bíblico, orientado para o terminal da grande praça joanina, que insiro a comunicação que me foi pedida, e que tem por título «JESUS, SANTUÁRIO DE DEUS PARA O HOMEM». Basta pôr lado a lado os títulos acabados de referir, e que parecem colidir uns com os outros: «SANTUÁRIO, ESPAÇO DE EVANGELIZAÇÃO», e «JESUS, SANTUÁRIO DE DEUS PARA O HOMEM», Santuário-espaço e Santuário-pessoa, para se concluir que não é fácil circular no meio deste trânsito.

I. Do SANTUÁRIO-ESPAÇO para o SANTUÁRIO-PESSOA

O tema que me é pedido situa-se no estuário do trânsito bíblico e coloca diante de nós JESUS COMO O SANTUÁRIO, portanto, o Santuário-pessoa. Analisarei, neste âmbito, sobretudo dois textos joaninos significativos: Jo 2,13-22 e Jo 4,19-24. Textos de Lucas, Marcos, Isaías, Amós e outros serão também objecto de estudo, ou, por vezes, somente de uma simples evocação. No final, intentarei formular alguns desafios que a temática nova do JESUS-SANTUÁRIO lança à temática do SANTUÁRIO-ESPAÇO.Antes mesmo de entrar pelos textos referidos, lembro aqui que, na versão massorética (TM), o Salmo 150 abre com «Alleluia! Louvai Deus no seu Santuário (beqodshô)» (Sl 150,1), a que a tradução grega (LXX), seguida pela Vulgata (Vg), aporta uma notável actualização: «Alleluia! Louvai Deus nos seus santos (en toîs hagíois autoû / in sanctis eius)»[2]. Trânsito do SANTUÁRIO-ESPAÇO para o SANTUÁRIO-PESSOA. Leia o resto deste artigo »


DAR SENTIDO À DOR E AO MORRER

Junho 24, 2008

 

1. INTRODUÇÃO

O tempo em que vamos parece o de Thomas Hobbes, quando, em 1651, deixou escrito no seu famoso Leviatã, que «tudo o que existe tem três dimensões, a saber, comprimento, largura e altura, e aquilo que não tem três dimensões não existe nem está em parte alguma»[1]. Com este procedimento, Hobbes, e alguns dos nossos contemporâneos com ele, reduzem o homem a um objecto, sem alma nem emoções, sem alegria nem tristeza, sem encanto, sem Deus. É um homem à medida do cadáver, e um mundo à medida do cemitério, tudo formatado e tresandando a amoníaco. É o mundo do «dois vezes dois são quatro», de que fala Dostoievski nos seus Cadernos do Subterrâneo, acrescento logo, em jeito de confissão: «O homem sempre teve medo deste dois vezes dois são quatro, e eu também tenho»[2]. Leia o resto deste artigo »


AMADOS POR DEUS

Junho 24, 2008

1. COMO VEM O CÉU!

Em carta enviada a Cristina de Lorena, Grã-Duquesa da Toscânia, no dealbar do século XVII, em 1615, o físico e astrónomo Galileu, citando o célebre Cardeal Baronio, deixou escrito que «a intenção do Espírito Santo, ao inspirar a Bíblia, era ensinar-nos como se vai para o céu, e não como vai o céu». Leia o resto deste artigo »


A revelação de Deus e a universalidade da salvação na tradição sapiencial

Junho 24, 2008

I. TEXTUALIDADE E IDENTIDADE DO SAPIENCIAL BÍBLICO

Classificam-se habitualmente com o nome de «Sapienciais» os seguintes Livros do Antigo Testamento: Job, Salmos, Provérbios, Qohelet (ou Eclesiastes), Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Ben Sira (ou Eclesiástico). Esta arrumação é hoje manifestamente insuficiente, pois há muitos outros textos esparsos no corpo do Pentateuco e dos Livros Históricos e Proféticos – nomeadamente os Livros do Génesis, Rute, Tobias, Judite, Ester, Macabeus, Daniel, Baruc e Jonas – que apresentam marcas de teor sapiencial. Mas vistas as coisas mais a fundo, teremos de reconhecer que é o inteiro Livro da Bíblia que apresenta um travejamento sapiencial, dado que, nas palavras argutas de Baruc e de Ben Sira, «a Sabedoria é o Livro» (Ecli 24,23; Br 4,1).

A Sabedoria é como a respiração: não se dá por ela
Se nos ajustarmos à arrumação clássica, a primeira coisa que se pode dizer da Sabedoria é o quanto é fácil não falar da Sabedoria. A locução «A Lei e os Profetas» diz todo o Antigo Testamento, sem que seja necessário acrescentar «os Sábios». A Sabedoria é amiúde considerada expletiva ou decorativa, pelo que tem sido muitas vezes marginalizada ou até omitida nos estudos do Antigo Testamento1 . Os Provérbios recolhidos por Salomão, por Ezequias ou por Jesus Ben Sira, são, com certeza, interessantes. Mas um provérbio não é uma revelação. O domínio do provérbio é o do já dito. A língua é o que já lá está antes de nós, e o provérbio, que é a mais pequena moeda da conversação e a mais pequena medida da poesia2 , é o que já está na língua3 .
É ainda fácil não falar da Sabedoria, porque a Sabedoria desce à nossa terra e se insinua nas pregas do nosso quotidiano. A Sabedoria é a vida no que a vida tem de mais elementar. É aquilo em que não pensamos, tão natural o achamos. Como quando respiramos. A Sabedoria não tem idade. É o que continua lá desde sempre4. Simplesmente. A matéria da Sabedoria faz a conversação que se tem com os mais pequenos, com quem está a começar, as crianças e os pobres. A Sabedoria é o regresso a casa, ao elementar, à família, ao lar, à sociedade do homem e da mulher, e da criança que os continua5 . É o regresso ao tempo de nascer, de crescer e de morrer e de acreditar na própria existência, que é a esperança na forma mais radical que se possa conceber6 . O tempo da Sabedoria é, muitas vezes, um tempo sem grande história, sem acontecimentos. Um tempo sem acontecimentos não se conta; canta-se. O tempo da poesia não é o tempo das datas; é o tempo das estações7 . Ao longo do Livro dos Provérbios, de Job, de Qohelet, os Sábios podem escrever acerca da Sabedoria e de Deus como se nada soubessem da história bíblica8.
Nesse sentido, Job é um estrangeiro, um homem simplesmente, e o nome de YHWH apenas por uma vez aparece na boca das personagens do Livro, e é porque é citado um provérbio que o contém: «YHWH o deu, YHWH o tirou! Bendito seja o nome de UHWH!» (Jb 1,21). Leia o resto deste artigo »


A riqueza vital da Oração a partir dos Salmos

Junho 24, 2008

 

1. Pórtico de entrada: títulos, nomes, tonalidade

Do português ao latim, ao grego, depois ao hebraico: Salmos, Psalmi, Psalmoí. No singular, Salmo, Psalmus, Psalmós. Nos LXX, o grego psalmós (de psállein = «tocar um instrumento de corda») é usado para traduzir o termo hebraico mizmôr, que aparece como título de um Salmo por 57 vezes, e que designa sempre um cântico acompanhado por instrumentos de cordas1 .

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Caminhos de pedagogia evangélica

Junho 24, 2008

Os Evangelhos sabem que a história de Jesus que transmitem é a história da manifestação de Deus entre nós. E que não é apenas a história de um homem sábio e justo que nos vem ensinar, ainda que de modo exemplar, como devemos estar diante de Deus. Isso já nós sabíamos e estamos já aptos a saber antes de ouvir ou de ler qualquer Evangelho. Não seria notícia, portanto. Notícia, e boa, é que Jesus tenha vindo mostrar-nos, não como nós devemos estar diante de Deus, mas como é que Deus está diante de nós, em relação a nós. Não como nós nos devemos comportar com Deus, mas antes disso, sempre antes disso, como é que Deus se comporta connosco. É este o espaço da inaudita notícia e da surpresa1.  Leia o resto deste artigo »


«Todos lá nascemos!» A celebração do Mistério Pascal

Junho 24, 2008

 

O Concílio Vaticano II usa reiteradamente a expressão mistério pascal para designar a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, e o seu significado para nós. Este para nós do mistério pascal tem de ser sempre fortemente acentuado e agrafado, uma vez que Cristo – refere o texto conciliar e cantamos nós no Prefácio da Vigília Pascal – «morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando restaurou a nossa vida». É deste CUME que nasce a Igreja e os sacramentos, nomeadamente o baptismo e a eucaristia (SC 5.6.47); é neste LUME NOVO que se acende a celebração do inteiro ano litúrgico, cujo centro é sempre o Domingo e a Páscoa Anual (SC 102.106s.); é esta FONTE que anima todo o quotidiano cristão, devendo informar, desde a raiz, tudo o que fazemos, todas as nossas actividades, todos os nossos comportamentos; mas é ainda neste cume, neste lume e nesta água viva que cada homem de boa vontade, crente ou não crente, será sempre contado, encontrado e conhecido (1 Cor 13,12; Gl 4,9; Fl 3,12) – saiba-o ou não, Deus o sabe (cf. 2 Cor 12,2.3) – para que possa receber ânimo e sentido para a vida e para a morte (GS 22). Leia o resto deste artigo »


Lectio Divina: uma leitura familiar e orante da Bíblia

Junho 24, 2008

 

I. O QUE É A LECTIO DIVINA?
Há um provérbio italiano que diz: «Tra il dire e il fare c’è di mezzo il mare» [= «Entre o dizer e o fazer há o mar de permeio»]. Serve este provérbio para apresentar a Lectio Divina como uma ponte, assente em oito pilares, que atravessa este mar, e que conduz, passo a passo, da análise do texto bíblico, passando pela meditação e oração prolongadas, à transformação da vida. O objectivo da Lectio Divina não é o mero deleite intelectual, o saber, mas a transformação da vida1. Eis então, de forma sumária, os oito pilares em que assenta a ponte da Lectio Divina, que ajudam a atravessar o mar que separa o «dizer» do «fazer», para chegarmos da leitura da Escritura à conversão do coração e à transformação da nossa vida. Leia o resto deste artigo »


«De graça recebestes, de graça dai»

Junho 23, 2008

 

1. O TEXTO

Importa começar por ler o texto de Mt 10,6-15, dado que é o único texto dos Evangelhos que guarda as palavras do título desta comunicação: «De graça recebestes, de graça dai» (Mt 10,8) 1.

«10,6IDE primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7E INDO, anunciai, dizendo: “Fez-se próximo (éggiken: perf. de eggízô) de vós o Reino dos Céus”. 8Os doentes curai, os mortos ressuscitai, os leprosos purificai, os demónios expulsai. DE GRAÇA (dôreán) RECEBESTES (lambánô). DE GRAÇA (dôreán) DAI (dídômi). 9Não adquirais (ktáomai) ouro, nem prata, nem cobre para os vossos cintos, 10nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão. Na verdade, o trabalhador é digno do seu sustento. 11Em qualquer cidade ou aldeia em que entreis, procurai saber se há nela alguém digno, e permanecei lá até que saiais. 12Ao entrardes na casa, saudai-a. 13E se a casa for digna, vá a vossa paz sobre ela; mas, se não for digna, que a vossa paz retorne para vós. 14E se alguém não vos acolher (déchomai) nem escutar a vossa palavra, ao saírdes para fora dessa casa ou dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés. 15Em verdade vos digo: “No dia do julgamento, haverá mais tolerância para a terra de Sodoma e de Gomorra do que para essa cidade”» (Mt 10,6-15). Leia o resto deste artigo »


Segui-l’O de perto no caminho

Junho 1, 2008

1. No próximo dia 3 de Outubro entramos, em termos de cronologia, no 75.º ano de vida da nossa SMBN. Vamos entrar neste ano com o lema “75 anos em missão com Ele”. Queremos que este lema seja verdade na nossa vida. Certamente o foi sendo na vida dos companheiros que nos precederam, e que, com o seu testemunho, por vezes até ao sangue, sabiam que não estavam sozinhos, sabiam em quem tinham confiado, sabiam a quem seguiam no caminho. “75 anos em missão com Ele” é, portanto, uma constatação e uma herança, mas pretende ser também um programa, um desafio, uma provocação para nós, HOJE. Leia o resto deste artigo »