1. Missão procedente de Deus, missão aberta ao mundo, missão endereçada ao coração de cada ser humano, missão a correr de porta em porta, de mão em mão, missão a transvazar de coração a coração. A missão é de todos, a todos envolve e implica. João Paulo II disse-o assim: «A missão compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais». E o Documento Diálogo e Missão expressou-se deste modo: «A missionariedade é, para cada cristão, expressão normal da sua fé». Outra vez João Paulo II: «Quem verdadeiramente encontrou Cristo, não pode guardá-l’O para si; tem de O anunciar». E Bento XVI disse-o recentemente assim: «A Igreja é missionária no seu conjunto e em cada um dos seus membros».
2. Consciente desta realidade, Paulo VI traçou bem e fundo o perfil evangelizador da Igreja: «Evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar». E numa recente Nota Pastoral, a Conferência Episcopal Italiana deixou escrito com eloquente beleza e precisão: «A Evangelização é o fundamento de tudo e deve ter o primado sobre tudo; nada a pode substituir e nenhuma outra tarefa se pode antepor-lhe».
3. Se «Deus é amor» (1 Jo 4,8 e 16), e se nos ama com amor perfeito (1 Ts 1,4), enviando-nos, por isso, o seu Filho (1 Jo 4,10), que é «o primeiro e o maior evangelizador», e se é o amor que faz passar da morte para a vida (1 Jo 3,14), então «a Evangelização é uma questão de amor» inadiável e não delegável, e a Igreja portuguesa, em todas as suas instâncias, parcelas e pessoas, não pode deixar de se envolver e implicar nos horizontes da missão ad gentes, que é sempre o verdadeiro paradigma da Evangelização em qualquer latitude. Na verdade, «A missão ad gentes não é apenas o ponto de conclusivo do empenhamento pastoral, mas o seu horizonte permanente e o seu paradigma por excelência». «Quanto mais a paróquia for capaz de redefinir a sua tarefa missionária no seu território, tanto mais saberá projectar-se no horizonte do mundo, sem delegar apenas em alguns a responsabilidade da evangelização dos povos. Não poucas experiências têm sido felizmente levadas a cabo nestes anos: intercâmbio de pessoal apostólico, viagens de cooperação entre as Igrejas, ajuda em projectos de solidariedade e desenvolvimento, geminações de esperança nas difíceis fronteiras da paz, projectos educativos de novos estilos de vida, denúncia do dramático abuso a que são submetidas as crianças. Mais do que um empenhamento ulterior, a missão ad gentes é um enriquecimento para a pastoral, uma ajuda às comunidades em ordem à conversão de objectivos, métodos, organização, e em responder com confiança ao mal-estar que muitas vezes se experimenta».
4. De quanto fica dito, e no contexto do Ano do Congresso Missionário Nacional, que realizámos entre os dias 03-07 de Setembro, resulta claro que é preciso saber ler e reconhecer o imenso e belo labor que, com denodo, humildade e grande dedicação, por vezes até ao sangue, os Institutos Missionários portugueses têm sabido levar a cabo no inteiro orbe: quantas redes de amor, quantas mãos unidas, quantos corações reacendidos, quantas vidas ressurgidas! Não podemos deixar de nos alegrar com «o “livro da missão” que os missionários continuam a escrever e que tem muito a ensinar também às nossas paróquias».
5. Mas é preciso também, no mesmo contexto, lembrar, estimular e saudar, com grande estima e carinho, os fiéis leigos que, com imensa generosidade e evangélico desprendimento, têm sabido e querido doar pedaços da sua vida à causa da Evangelização, ajudando a escrever uma página exemplar, testemunhando o Evangelho e edificando no mundo a paz em nome de Cristo.
6. Mas impõe-se ainda que, sob a orientação dos nossos Bispos, a quem o Papa Bento XVI, na sua mensagem para o Dia Missionário Mundial (19 de Outubro de 2008), recorda que o seu «compromisso consiste em tornar missionária toda a comunidade diocesana», saibamos, a partir deste Ano do Congresso Missionário Nacional, fazer surgir na Igreja portuguesa Centros missionários diocesanos e paroquiais que, em consonância com os Centros de animação missionária dos Institutos Missionários, possam fazer com que a missionariedade ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã.
7. E, porque atravessamos também o Ano Paulino, não podemos deixar de evocar e invocar, e, se possível, imitar, essa figura ímpar do «maior missionário de todos os tempos», que se dedicou ao Evangelho a tempo inteiro e de corpo inteiro, adscrevendo muitas vezes ao seu nome os títulos de «servo» e «apóstolo». De tal modo que bem podemos dizer, com Lorenzo de Lorenzi, que «a sua vida privada era… a apostólica». Dedicação total, gerando comunidades (1 Cor 4,14-15; Flm 10), dando-as à luz (Gl 4,19), acalentando-as e exortando-as, como uma mãe ou um pai (1 Ts 2,2-12), e rodeando-se de uma vasta rede de muitos e bons e bem formados cooperadores.
8. A última palavra vai para Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, Estrela da Evangelização e da Esperança, que maternalmente nos acolhe, nos protege e nos guia. Nós te saudamos, Maria, e te pedimos que nos ensines a amar os nossos irmãos como tu amas os teus filhos queridos. Abençoa, Mãe, os nossos propósitos neste Ano de Congresso Missionário Nacional. Vela por nós, e dá-nos um coração verdadeiramente missionário.
D. António Couto
JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI), de 6 de Janeiro de 2001, n.º 40.
Em 1 Ts 1,4, Paulo dirige-se com afecto ao cristãos de Tessalónica, usando a expressão «irmãos amados por Deus», em que «amados» (êgapêménoi) se apresenta no particípio perfeito passivo do verbo agapáô, traduzindo assim um amor novo, vindo de Deus, que começou a amar e a amar continua ainda hoje, pois é esse o sentido do perfeito grego.