10. Paulo, Tito e Corinto ou a história do anel verdadeiro
Para introduzir a temática comovente do reencontro de Paulo com a sua comunidade de Corinto, momentaneamente perdida, e ganha por Tito, que foi bem sucedido na sua viagem missionária a Corinto por solicitação de Paulo (2 Cor 8,16-17; 12,18), começo por evocar a «história dos três anéis»[1]. Trata-se de uma novela que circulava na Idade Média entre os judeus de Espanha, que aparece recolhida no Decameron, de Boccaccio (1313-1375), e que atingiu a máxima dimensão com o escritor alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), que a incluiu no seu poema dramático Nathan der Weise [= «Natã, o sábio»], escrito em 1779.
A novela dos três anéis conta-nos que havia, no Oriente, um homem muito rico, que possuía um anel que tinha o condão de tornar feliz e querido e estimado por Deus e pelos homens aquele que o usasse. Ao longo de muitas gerações, o precioso anel transitou sempre de pai para filho, sendo herdado pelo filho predilecto. Até ao dia em que um pai se encontrou na difícil situação de ter de escolher o herdeiro do anel entre três filhos igualmente queridos. Para resolver a situação, aquele pai optou por mandar fazer, às escondidas, mais dois anéis iguais, no aspecto, ao original. Pouco antes de morrer, aquele pai entregou a cada filho um anel, ficando cada um deles a pensar que tinha sido o escolhido pelo pai para herdar o precioso anel. Mas quando os três filhos se encontraram frente a frente, cada um com o seu anel, aperceberam-se logo de que tinha havido falcatrua, e começou logo ali a guerra pelo reconhecimento do anel verdadeiro. Depois de muitos anos de guerra e sofrimento, os três irmãos decidiram comparecer perante um juiz, para que este dirimisse a questão. Depois de ouvir a história das virtualidades do anel, segundo a qual o anel verdadeiro tinha o condão de tornar o seu portador querido e estimado pelos outros, o juiz quis então saber qual dos três irmãos era o mais querido pelos outros. Como nenhum dos três ousasse responder, o juiz compreendeu que estava perante três malvados merecedores de castigo. Mas, em vez de os castigar, achou melhor tecer algumas considerações: «Pensai que o vosso pai não vos enganou, mas que não quis submeter-se à tirania de um único anel verdadeiro». E deu-lhes um conselho: «Adiemos a questão de saber qual é o único anel verdadeiro, e que cada um de vós se esforce, entretanto, por fazer com que o seu anel seja o verdadeiro, agindo de maneira a tornar-se querido e estimado pelos outros. E lá há-de vir, um dia, um juiz, daqui a milhares de anos, que, analisando o que entretanto conseguirdes fazer, ditará a sentença definitiva». Leia o resto deste artigo »