OUTRA SABEDORIA, OUTRO SABER, OUTRO SABOR

Fevereiro 26, 2009

1. O Livro do Êxodo apresenta-nos um Deus surpreendente, voltado para nós, atento aos nossos problemas e deles sabedor, e que acode aos nossos gritos, mesmo que não os tenhamos dirigido a Ele. Leiamos com atenção este texto espantoso:

 

«2,23E aconteceu que, decorrido muito tempo, morreu o rei do Egipto. Os filhos de Israel gemiam debaixo da servidão, e clamaram, e o seu grito de socorro desde a servidão subiu a Deus. 24ENTÃO Deus OUVIU o seu gemido, e Deus RECORDOU-SE da sua aliança com Abraão, com Isaac e com Jacob. 25Deus VIU os filhos de Israel, e Deus SABE» (Êxodo 2,23-25).

 

Página sublime, em que Deus se revela como Aquele que está, com amor, atento à nossa vida, e que intervém na nossa história activamente e gratuitamente. De facto, o texto não diz que Israel dirigiu o seu grito a Deus. Diz simplesmente que Israel gritou, e que Deus OUVIU ENTÃO aquele grito. A novidade do Deus da Bíblia mostra-se toda neste sóbrio ENTÃO, que traduz o ainda mais sóbrio vau hebraico, que apresenta a intervenção de Deus, não como resposta a um pedido nosso, mas como Sua pura iniciativa de graça e liberdade.

 

2. Atente-se também neste discurso em dois tempos de Moisés no Livro do Deuteronómio, salientando a inciativa gratuita de Deus e exortando-nos à verdadeira Sabedoria bíblica (SABE HOJE!): não assente naquilo que fizemos, fazemos ou faremos, mas naquilo que, por amor, nos foi feito, nos é feito e nos será feito:

 

«4,37Porque Ele AMOU os teus pais e ESCOLHEU a sua descendência depois deles, Ele TE FEZ SAIR, diante da sua face, com a sua grande força, do Egipto. 38Deserdou nações grandes e mais poderosas do que tu, para TE FAZER VIR e TE DAR a sua terra como propriedade, como HOJE. 39SABE HOJE e volta-o no teu coração: sim, o Senhor é Deus nos céus, no alto, e sobre a terra, em baixo, e não há outro. 40Guarda os seus estatutos e as suas ordens, que eu te ordeno HOJE para o teu bem e para o dos teus filhos depois de ti, para que prolongues os dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, TE DÁ todos os dias» (Deuteronómio 4,37-40).

 

Nestas admiráveis e saborosas páginas da Bíblia, a consciência do homem não é a auto-consciência daquilo que eu fiz, mas a hétero-consciência daquilo que me é feito e que eu sou HOJE chamado a reconhecer: «SABE HOJE e volta-o no teu coração: sim, YHWH é Deus nos céus, no alto, e sobre a terra, em baixo, e não há outro» (Deuteronómio 4,39).

 

3. SABE hoje e VOLTA-O NO TEU CORAÇÃO! Outra Sabedoria, outro saber, outro sabor. À outra luz do coração, que é onde arde o dom de Deus, Sabedoria de Deus, escrita nova de Deus no coração. Anúncio feito por Jeremias (31,33), cumprido no coração dos dois de Emaús (Lucas 24,32) e que Paulo quer acender no coração de Timóteo (2 Timóteo 1,6).

 

4. Querida Igreja destes tempos difíceis: vamos saborear o que Deus fez, faz e vai continuar a fazer no coração dos seus filhos queridos! Um coração habitado pelo dom de Deus é um coração missionário. Querida Igreja, sabe-o e saboreia-o hoje e volta-o no teu coração, isto é, vira-o e revira-o à outra luz do coração!

 

António Couto


E ELE FEZ DOZE PARA QUE ESTIVESSEM COM ELE E PARA OS ENVIAR

Fevereiro 21, 2009

1. No início do seu Evangelho, Marcos põe perante nós a cena sublime do chamamento ou vocação e missão dos «doze»:

 

«13E Ele sobe para a montanha e chama para si aqueles que ele queria, e andaram para ele. 14E Ele fez (epoíêsen) doze, para que estivessem com ele, e para os enviar a pregar 15e ter autoridade para expulsar os demónios» (Marcos 3,13-15).

 

2. A iniciativa é de Jesus. Ele chama para si aqueles que Ele quer. E eles vão para Ele em admirável sinergia. O que o texto regista a seguir é sublime e exclusivo de Marcos: «Ele fez doze»: admirável acto criador! Primeira finalidade desta nova criação: estar com Ele. Simplesmente estar com Ele, atentos a Ele, para aprender a viver com Ele, como Ele. Este primeiro tempo deve ser sempre o primeiro, o mais intenso, intenso e pleno, como se não houvesse nenhum outro. Só depois vem o envio para a pregação do Evangelho com a consequente libertação de todas as forças demoníacas ou maléficas (ódio, inveja, egoísmo, prepotência, mentira, violência…) que aprisionam os nossos irmãos.

 

3. Esta missão de saúde, paz e alegria grande para todos é de novo expressa por Jesus, no final do mesmo Evangelho de Marcos, com o particípio da liberdade: «Indo

 

«15E Ele disse-lhes: Indo (poreuthéntes) por todo o mundo, anunciai o Evangelho a toda a criatura» (Marcos 16,15).

 

4. Este particípio histórico faz-nos tomar parte no caminho concreto de todos os vocacionados da Escritura, desde que Abraão ouviu o imperativo: «Vai!» (Génesis 12,1). E o narrador diz-nos que «Abraão foi» (Génesis 12,4).

 

5. Aquele que é assim chamado e enviado por Deus é uma nova criatura, vive dessa alegria nova e dá testemunho dessa maneira nova de viver. Não tem de demonstrar nada. Apenas mostrar e testemunhar. Seja onde for. Seja a quem for. A experiência da testemunha é sempre mais forte e mais radical do que as provas que eventualmente queira dar. É por isso que Filipe fala de Jesus a Natanael, mas face às objecções deste, não lhe dissipa as dúvidas (João 1,45-46); diz-lhe simplesmente: «Vem e vê!» (João 1,46). O testemunho não é eficaz senão quando incita o destinatário, não a inclinar-se perante as provas, mas a fazer, por sua vez, a experiência.

 

6. Note-se, todavia, uma diferença fundamental: os chefes das nações ou das empresas preparam a sua sucessão quando pressentem que o termo da sua vida se aproxima e que é inevitável a sua retirada de cena; os mestres escolhem os seus continuadores sobre a base de uma longa selecção entre os seus discípulos. Ao contrário, no que se refere a Jesus, é no princípio da sua missão que Ele chama os seus discípulos, e é durante a sua própria missão que os envia em missão. Esta contemporaneidade implica com Jesus os seus discípulos. Mas implica-nos a nós do mesmo modo, impedindo a sua e a nossa catalogação como meros continuadores da missão evangelizadora de Jesus. Continuadores é o que os discípulos de Jesus são e o que nós somos aos olhos da história empírica. Mas nós somos outra coisa bem diferente na estrutura do relato do Evangelho. Nós com Ele, e não nós depois dele.

 

7. «Eu estou convosco todos os dias» (Mateus 28,20). «Sem mim nada podeis fazer» (João 15,5). Equivocamo-nos quer quando encaramos a missão em termos de vedetismo quer quando a encaramos com pesado cepticismo. Não estamos sozinhos na cena da missão. Tão pouco somos donos da missão. A missão é d’Ele. Nós somos chamados a estar com Ele. Nunca, porém, à frente d’Ele. Ele é que é o Mestre. Nós devemos segui-l’O como discípulos fiéis. Segui-l’O. Mas também não devemos ficar demasiado para trás. Correríamos o risco de O perder de vista. De ficar sós. E de já não estar com Ele.

 

8. Fica connosco, Senhor, neste tempo de graça. Fica connosco. Preside-nos e precede-nos sempre. E que nós estejamos lá sempre atrás de Ti, perto de Ti. Contigo.

 

António Couto


OLHA COM ENLEVO A CRIANÇA QUE SE AGARRA À TUA MÃO

Fevereiro 16, 2009

 

1. Depois de, no decurso do IV milénio a. C., ter iniciado a escrita ideográfica cuneiforme, quase pictórica, a velha Suméria conhece, a partir de meados do III milénio a. C., a aventura da escrita fonética. Se a escrita ideográfica cuneiforme se limitava a elementares registos de teor administrativo – contas e dinheiros –, o avanço da escrita fonética trouxe consigo a literatura. Surgiram assim diversas obras literárias no berço de «Entre-os-Rios» (Tigre e Eufrates), que é o que significa o nome «Mesopotâmia». Deixo ficar aqui dois extratos da infância literária da humanidade, da nossa infância literária, portanto. Há-de o leitor notar que se trata de dois pedaços de felicidade. O primeiro é retirado do mito sumero-acádico de Enki e Ninhursag, que abre com a descrição de uma país de sonho, de nome Dilmun, que estranhamente já nada se parece com o sul do actual Iraque destruído pela guerra e minado por inúmeras intrigas:

 

2. «Dilmun é um lugar puro,/ Dilmun é um lugar limpo;/ Dilmun é um lugar limpo,/ Dilmun é cristalino./ Em Dilmun, o corvo não lança os seus grasnidos,/ o milhagre não lança os seus gritos de milhafre,/ o leão não mata,/ o lobo não arrebata o cordeiro,/ não se conhece o cão devorador de cabritos,/ não se conhece o javali que devora o grão./ O doente dos olhos não diz: “doiem-me os olhos”;/ o doente da cabeça não diz: “dói-me a cabeça”;/ a mulher idosa não diz: “sou uma velha”;/ o homem idoso não diz: “sou um velho”./ Aquele que atravessa o Rio Tenebroso não diz…;/ à sua volta não se ouvem lamentos;/ o cantor não exprime queixumes;/ junto da cidade não se ouvem lamúrias».

 

3. O segundo é retirado da famosíssima Epopeia de Gilgamesh, mítico rei de Uruk, que canta assim a fragilidade e a beleza da vida humana:

 

4. «Tu, Gilgamesh, que o teu ventre esteja sempre cheio,/ alegra-te dia e noite,/ faz festa em todo o tempo,/ dia e noite dança e rejubila./ Que os teus vestidos sejam de festa,/ a tua cabeça perfumada,/ o teu corpo banhado com água./ Olha com enlevo a criança que se agarra à tua mão;/ que uma esposa repouse sempre em teu seio./ Eis o quinhão que toca ao homem».

 

5. Deixem-me homenagear Assurbanípal. Tinha a grande e brilhante Assíria atingido o seu apogeu com Asaradon (680-669), o qual, em 671, submeteu o próprio Egipto, no outro extremo do Crescente Fértil. Asaradon morreu em 669. Sucedeu-lhe o seu filho Assurbanípal (669-627), que herdou um país vasto, poderoso e rico. Mas Assurbanípal não tinha vocação para a política, para as armas e para as contas, e resolveu dedicar-se em exclusivo à organização da sua biblioteca de Nínive, onde recolheu muitos textos da escrita cuneiforme e fonética. Era um amante da cultura. Foi desta forma, porque um rei se dedicou à cultura, que foi preservada grande parte da literatura mesopotâmica. Muito por causa da incúria política e administrativa de Assurbanípal, a Assíria cairá pouco depois, em 612, às mãos impiedosas da Babilónia. Os militares e os administradores certamente não perdoaram a Assurbanípal este desastre. Mas a cultura de todos os tempos e latitudes presta-lhe homenagem. É quase certo que, sem ele, nunca conheceríamos a literatura e a arte da antiga Mesopotâmia. Teria sido uma perda irreparável.

 

6. Reparamos agora que, com esta guerra em solo iraquiano, foi o mundo todo que deu um passo atrás. Outra vez do sonho literário para as contas da administração, do III milénio para o IV milénio a. C. (em termos de escrita), mas também de Assurbanípal para Asaradon (em termos de cultura e mentalidade). Estamos outra vez tão entretidos e empenhados com as espingardas, o petróleo e o dinheiro, que não damos sequer pelo sangue derramado de tantos homens, mulheres e crianças, por tantas lágrimas vertidas, e pelo saque irreparável dos museus do Iraque, um dos berços da humanidade. Em boa verdade, a crise em que estamos atolados não vale uma lágrima sequer de uma criança que sofre!

 

7. Não te esqueças, meu irmão de Domingo, de velar sempre e em primeiro lugar pela beleza e pela humanidade da vida e do mundo à tua volta.

 

António Couto


VER, JULGAR E AGIR

Fevereiro 14, 2009

 

1. Proponho hoje uma série de ditos carregados de sabedoria prática, que se encontram no tratado da Mishna judaica, intitulado «Pirkê Abôt», título que significa «Capítulos dos Pais», em que se reúnem muitas sentenças certeiras e divertidas, que nos podem ajudar a ler melhor os nossos comportamentos diários.

 

2. Há quatro tipos de pessoas: 1) aquele que diz: «o que é meu é meu, e o que é teu é teu»: é a pessoa normal; 2) aquele que diz: «o que é meu é teu, e o que é teu é meu»: não sabe o que diz; 3) aquele que diz: «o que é meu é teu. e o que é teu é teu»: é o homem bom; 4) aquele que diz: «o que é meu é meu, e o que é teu é meu»: é o homem mau.

 

3. Há quatro tipos de temperamento: 1) o que se zanga com facilidade, e se acalma com facilidade: os ganhos são anulados pelas perdas; 2) o que se zanga com dificuldade, e se acalma com dificuldade: as perdas são anuladas pelos ganhos; 3) o que se zanga com dificuldade, e se acalma com facilidade: é o homem bom; 4) o que se zanga com facilidade, e se acalma com dificuldade: é o homem mau.

 

4. Há quatro tipos de alunos: 1) o que é rápido para escutar, e rápido para esquecer: os ganhos são anulados pelas perdas; 2) o que é lento para escutar, e lento para esquecer: as perdas são anuladas pelos ganhos; 3) o que é rápido para escutar, e lento para esquecer: é o sábio; 4) o que é lento para escutar, e rápido para esquecer: é o estúpido.

 

5. Há quatro tipos de pessoas na prática da esmola: 1) o que dá, mas não quer que os outros dêem: os seus olhos são maus para com os outros; 2) o que quer que os outros dêem, mas ele não dá: os seus olhos são maus para ele mesmo; 3) o que dá, e quer que os outros dêem: é o homem bom; 4) o que não dá, nem quer que os outros dêem: é o homem mau.

 

6. Há quatro tipos de pessoas em relação à casa de estudo: 1) o que vai, mas não faz nada: tem a recompensa de ir; 2) o que não vai, mas faz alguma coisa: tem a recompensa de fazer; 3) o que vai, e faz alguma coisa: é o homem bom; 4) o que nem vai, nem faz nada: é o estúpido.

 

7. Há quatro tipos de pessoas que se sentam diante do sábio: a esponja, o funil, o crivo e o filtro. 1) A esponja absorve tudo, tanto as coisas boas como o lixo: não tem critério; 2) o funil não retém nada: o que entra por um lado sai pelo outro: perde tudo; 3) o crivo retém o que é bom (o cereal) e deita fora o lixo: sabe discernir; 4) o filtro deixa passar o que é bom (o vinho) e retém o lixo (as borras): é insensato.

 

8. Calma e sabiamente sentado às portas da Quaresma, descobre-te a ti mesmo, meu irmão de Fevereiro. É tempo de ver e de julgar. E de agir em consequência.

 

António Couto


A CULTURA DA MARAVILHA CONTRA A CULTURA DA CHATICE

Fevereiro 11, 2009

1. Ó vós, construtores de cidades e de mundos, comerciantes, vendedores de trapos e de sonhos, antropólogos, sociólogos, sindicalistas, apregoadores das boas graças do trabalho do homem, pregadores, repetidores, aprendedores, calculistas, impostores, «não dizeis vós que faltam ainda quatro meses para a ceifa?» (João 4,35a). Não sei porquê, mas, pelos vossos cálculos, faltam sempre quatro meses para a ceifa.

 

2. Em verdade vos digo: «Erguei os olhos e vede os campos: estão brancos para a ceifa!» (João 4,35b). É assim o outro Reino, o Reino de Deus, que não é deste mundo, que não está aqui ou ali, que não surge na tábua de nenhum dos nossos cálculos nem na ponta de nenhum dos nossos raciocínios. É simplesmente «como quando» a terra lavrada de repente se faz trigo, o verde se faz branco, uma semente, um copo de água, um pedaço de pão trazem pela mão a eternidade.

 

3. Tudo tão rápido! Tudo tão simples! Tudo tão aqui! E então direis lá do fundo dos vossos olhos engessados: «Quando foi, Senhor, que nós te vimos com fome ou com sede, nu, doente ou na prisão, e não te socorremos?» (Mateus 25,44). E a resposta cairá fulminante e vertical como sobre a árvore cai a lâmina do relâmpago: «Em verdade vos digo: “Todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer!”» (Mateus 25,45).

 

4. Compreendereis então que tudo o que fazeis é decisivo. Que cada passo conta. Cada gesto conta. Cada palavra conta. Todo o amor conta, todo o desprezo conta, todo o ódio conta. Tudo somado e ponderado e calculado, mais dia menos dia, acabamos sempre por constatar, atónitos, que «pode a semente germinar antes do campo,/ e a espiga amadurar antes do tempo!»

 

5. Aqui é preciso estar atentos. Estamos rodeados de maravilhas. O milagre surpreende-nos de todos os lados e a todo o instante. Nós somos um milagre. Em cada um de nós, diariamente, se renovam 500 mil milhões de células! Mas a esquadria que embota os nossos olhos faz-nos ver tudo formatado, igual, uniformizado, cinzento, chato. É a chatice do quotidiano. A cultura da chatice. Tudo aplanado, igual, monótono. Levantar, comer, trabalhar, estudar, deitar, levantar… A mesma coisa, à mesma hora, todos os dias. Falta-nos a cultura da maravilha e do milagre. A única que é verdadeira e que dá sabor à vida. O judeu piedoso ainda hoje reza três vezes ao dia, porque é importante, e para não esquecer: «Nós te damos graças (…) pelos teus milagres que estão connosco todos os dias, pelas tuas contínuas maravilhas (…)».

 

6. No Tratado Pirqê ’Abôt, da Mishna (judaica), quando Yohanan ben Zakai perguntou aos seus discípulos: «Qual é o caminho mau de que o homem se deve afastar?», Rabi Simeão respondeu: «Pedir emprestado e não restituir. E é a mesma coisa receber emprestado de um homem ou de Deus». Certeiramente comenta o grande filósofo hebreu Abraham Joshua Heschel: «Talvez esteja aqui o núcleo da miséria humana: quando nos esquecemos de que a vida é um dom e também um empréstimo».

 

7. A vida é um dom, um presente. Há que o receber e abrir todos os dias com surpresa e emoção. A vida é um empréstimo. É preciso velar e responder por aquilo que não é nosso, que nós não dominamos nem devemos nunca querer dominar. A vida não é um objecto. Remete para outrem. Alegra-te com a maravilha da vida, meu irmão de Fevereiro.

 

António Couto


CUIDADO, A PALAVRA É FRÁGIL!

Fevereiro 6, 2009

 

1. «O homem é um animal racional», têm repetido tranquilamente os livros e os homens, ao longo dos séculos, desde Aristóteles. Dizer que o homem é um animal, ainda que racional, é definir o homem por baixo, dado que o termo de comparação é o animal.

 

2. De forma diferente de todos os outros livros, a Bíblia ousa dizer e repetir que o homem é «imagem de Deus», definindo assim o homem, não por baixo, a partir do animal, mas por cima, a partir de Deus.

 

3. E ao mesmo tempo que define o homem como «imagem de Deus», a Bíblia define também claramente qual deve ser a relação do homem com o animal. Refere, de facto, o primeiro Capítulo do Livro do Génesis que o homem deve saber dominar o animal, a animalidade (Génesis 1,26.28), e mostra logo que, quando tal não acontece, surge naturalmente a desgraça. É assim que Caim se tornará assassino: por não ter sabido dominar o animal, deixando-se antes dominar por ele, ser à imagem dele e não à imagem de Deus. Em boa verdade, o homem violento é aquele que deixa que o animal ou a animalidade o domine. Dominado, então, pelo instinto do pecado à sua porta deitado (Génesis 4,7), como se de um leão se tratasse (Eclesiástico 27,10), Caim trucida o seu irmão, não lhe dando qualquer espaço: nem sequer o estreito espaço da palavra!

 

4. Refere, de forma penetrante, a versão original do Livro do Génesis: «Disse Caim para Abel, seu irmão» (Génesis 4,8a). Mas é em vão que ficamos à espera de ouvir ou de ler o anunciado dizer de Caim. De facto, ele não dirá mesmo nada. A narrativa deixa-nos perante um silêncio cortante. Omitindo qualquer palavra, o relato prossegue logo referindo que «Caim se lançou sobre o seu irmão Abel, e matou-o» (Génesis 4,8b). É tão gritante este não-dizer de Caim depois do seu dizer anunciado, que as versões posteriores, pensando tratar-se de omissão, se esforçaram por preencher essa lacuna, colocando lá uma locução do género: «Saiamos para o campo». Mas o texto original não tem lá nada. Apenas um gritante e intencional vazio.

 

5. Bem o compreendeu Judas, irmão de Tiago, quando, na sua Carta, diz certeiramente que «aqueles que seguem o caminho de Caim» são «como os animais sem palavra» (Judas 10-11). De facto, a besta que há em Caim não fala, mas grita e trucida e come o outro! Ao grito basta-lhe o instante. A palavra precisa de tempo. A palavra verdadeira é desejo de outra palavra: da palavra do outro. A palavra verdadeira dá a palavra e pede a palavra. Estreito espaço sobre o qual há que vigiar constantemente.

 

6. É bom que tomemos consciência de que quando usamos tons que não admitem resposta, quando somos categóricos e intolerantes, quando falamos sem dar atenção às palavras do outro ou sem ter presente que é o outro que está à nossa frente, então somos, de facto, como Caim: gritamos sem dizer nada e preparamo-nos apenas para o ódio, para a violência, para o homicídio.

 

7. Escrever, como falar, é não dizer tudo. É a arte de lidar com as palavras como se cada palavra, para ser admitida à passagem estreita pela qual se apresenta depois de uma palavra e antes de outra palavra, tivesse que produzir uma declaração atestando que não está contaminada pela totalidade ou pestilência da morte. Escrever é um acto de fragilidade e de liberdade.

 

8. Que a palavra escrita, ou dita, que nos une seja sempre frágil, meu irmão de hoje.

 

António Couto


TOMÁS MORO, PATRONO DE GOVERNANTES E MODELO PARA TODOS

Fevereiro 4, 2009

1. «Assim, depois de uma maturada reflexão e acolhendo de bom grado os pedidos que me foram feitos, constituo e declaro S. Tomás Moro Patrono celeste dos Governantes e dos Políticos, concedendo que sejam tributadas todas as honras e privilégios litúrgicos que lhe competem, segundo o direito, aos patronos de categorias de pessoas». Estas são as últimas palavras da Carta Apostólica em forma de Motu Proprio com que, em 31 de Outubro de 2000, João Paulo II proclamou S. Tomás Moro Patrono dos Governantes e dos Políticos.

 

2. Tomás Moro viveu uma carreira política extraordinária no seu país. Tendo nascido em Londres, em 7 de Fevereiro de 1478, no seio de uma família respeitável, foi colocado desde jovem ao serviço do Arcebispo de Cantuária, John Morton, Chanceler do Reino. Estudou Direito, mas adentrou-se também nos vastos horizontes da cultura, mormente da teologia e da literatura clássica, com particular destaque para a língua grega que dominava perfeitamente. Manteve intercâmbio cultural e travou relações de amizade com alguns dos maiores vultos da cultura humanista e renascentista do seu tempo, com particular saliência para Erasmo de Roterdão.

 

3. De grande sensibilidade religiosa, conviveu de perto com franciscanos e cartuxos (esteve para entrar para um convento), mas seguiu a vida matrimonial, tendo-se casado em 1505 com Joana Colt, de quem teve quatro filhos. Tendo esta falecido em 1511, Tomás Moro desposou em segundas núpcias Alice Middleton, já viúva, com uma filha. Foi marido e pai afectuoso e fiel, excelente educador. Em sua casa estudava-se, rezava-se e acolhiam-se todos os necessitados de pão para o corpo ou para o espírito.

 

4. Em 1504, no reinado de Henrique VIII, foi eleito pela primeira vez para o Parlamento, e, a partir daí, não pára de subir na carreira política e administrativa. Fez viagens diplomáticas e comerciais à Flandres e aos territórios da França actual, foi juiz-presidente de um tribunal importante, vice-tesoureiro e cavaleiro. Ascendeu, em 1523, à presidência da Câmara dos Comuns, e, em 1529, foi nomeado por Henrique VIII Chanceler do Reino, cargo de que se demitiu em 16 de Maio de 1532, por não poder aceitar os planos de Henrique VIII, que se preparava para se separar de Roma e assumir o controlo da Igreja de Inglaterra (Roma não aceitava o divórcio de Henrique VIII de Catarina de Aragão, para se casar com Ana Bolena). O cisma foi proclamado em 30 de Março de 1534. Em 17 de Abril desse ano, Tomás Moro foi encarcerado na Torre de Londres, sendo decapitado em 6 de Julho de 1535. Na sua vida familiar e política, mas também durante todo o processo que o conduziria à morte, Tomás Moro mostrou-se sempre firme e determinado, fiel a Deus, à sua consciência e à verdade. Sempre com extraordinária lucidez e desarmante sentido de humor e delicadeza.

 

5. Excepcional no saber e no talento, no prestígio pessoal e literário, na fidelidade à sua consciência, no muito que teve a coragem de sacrificar, Tomás Moro foi ainda excepcional também na simpatia e no trato com os demais. As qualidades demonstradas, quer como homem público (eficiência, humildade, honestidade, espírito de justiça e verticalidade), quer na vida familiar (amizade, compreensão, hospitalidade, alegria e bom humor), foram consagradas pela vox populi e estão comprovadas por testemunhas.

 

6. Tomás Moro foi beatificado por Leão XIII em 1886, canonizado por Pio XI em 1935, e proclamado por João Paulo II Patrono dos Governantes e Políticos em 31 de Outubro de 2000. Seria bom que os Governantes de hoje pautassem as suas decisões pelo amor à verdade e à justiça, que todos reconhecemos em Tomás Moro, exemplo imperecível de coerência moral. Mas Tomás Moro apresenta-se também como modelo de vida para todos os homens e mulheres de hoje e de qualquer tempo. Fevereiro foi o mês do seu nascimento, e pode ser o mês do reconhecimento que lhe devemos.

 

António Couto


PAULO, MODELO DE EVANGELIZADOR (13)

Fevereiro 3, 2009

13. Evangelizar é a nossa maneira de ser

Diz Paulo a Timóteo, mas nós podemos também receber estas palavras oportunas:

 

 

«1,6Recordo-te (anamimnêskô) que reavives (anazôpyreîn) o carisma (tò chárisma) de Deus que está em ti» (cf. 2 Tm 1,6).

 

Reavivar o carisma é reacender o dom de Deus, como o fogo que se reacende das cinzas, como se vê pelo verbo grego anazôpyréô – usado só aqui no NT e duas vezes nos LXX (Gn 45,27; 1 Mac 13,7)[1] –, e como bem explica o Papa João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, n.º 70, de 25 de Março de 1992. Para que o dom de anunciar o Evangelho arda no nosso coração, mas arda também no coração de cada baptizado, dado que evangelizar é a nossa maneira de ser, mas é também a maneira de ser da Igreja, de toda a Igreja (Evangelii Nuntiandi, n.º 14; Redemptoris Missio, n.º 62), isto é, de todos os cristãos, de todas as dioceses e paróquias, instituições e associações eclesiais (Redemptoris Missio, n.º 2 e 61-76; Novo millenio Ineunte, n.º 40; Instrução Diálogo e Anúncio, n.º 82[2]; Documento Diálogo e Missão, n.º 10 e 14)[3].

 

Consciente da importância da Evangelização, Paulo VI traçou bem e fundo o perfil evangelizador da Igreja:

 

 

«Evangelizar constitui, de facto, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. A Igreja existe para Evangelizar»[4].

 

E numa recente Nota Pastoral, a Conferência Episcopal Italiana deixou escrito com eloquente beleza e precisão:

 

 

«A Evangelização é o fundamento de tudo e deve ter o primado sobre tudo; nada a pode substituir e nenhuma outra tarefa se pode antepor-lhe»[5].

 

O nosso serviço de evangelização já não pode consistir simplesmente em evangelizar o outro até um certo ponto, mas em evangelizá-lo até que ele sinta a necessidade de se constituir em evangelizador. Então sim, evangelizar será a nossa (de todos) maneira de ser. E estaremos sintonizados com o Apóstolo Paulo.

 

António Couto

[1] J. D. QUINN, W. C. WACKER, The First and Second Letters to Timothy, p. 590. São significativos os dois textos dos LXX: em Gn 45,27, é dito que, quando os filhos de Jacob lhe deram a entender que o seu filho José estava vivo, «o espírito do seu seu pai Jacob reacendeu-se»; em 1 Mac 13,7, é dito que, ao ouvir o discurso inflamado de Simão, «se reacendeu o espírito do povo ao ouvirem essas palavras».

[2] PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO e CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS, Istruzione Dialogo e annuncio: Riflessioni e orientamenti sull’annuncio del vangelo e il dialogo interreligioso, 19 de Maio de 1991.

[3] SECRETARIADO PARA OS NÃO-CRISTÃOS, Documento L’atteggiamento della Chiesa di fronte ai seguaci de altre religioni. Riflessioni e orientamenti su dialogo e missione, 10 de Junho de 1984.

[4] PAULO VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN), de 8 de Dezembro de 1975, n.º 14.

[5] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA, Questa è la Nostra Fede. Nota pastorale sul primo annuncio del Vangelo (QNF), de 15 de Maio de 2005, n.º 2.



PAULO, MODELO DE EVANGELIZADOR (12)

Fevereiro 2, 2009

12. O rosto missionário das Igrejas: a missão coração a coração

Em 2004, por ocasião dos 1250 anos do martírio de S. Bonifácio, Apóstolo da Alemanha, o Cardeal Karl Lehmann, Arcebispo de Mogúncia (Mainz), dirigiu à sua Diocese uma Carta Pastoral, intitulada Testemunho missionário, em que se lê:

 

 

«Tornámo-nos um mundo velho. Deixámo-nos vencer pelo cansaço (…). É necessário um radical revigoramento missionário da nossa Igreja. Não se trata apenas de reformar as estruturas. É preciso começar por cada um de nós. Se não estivermos entusiasmados pela profundidade e pela beleza da nossa fé, não podemos verdadeiramente transmiti-la nem aos vizinhos nem aos filhos nem às gerações futuras. (…) É necessário também ganhar outras pessoas para a nossa fé cristã e arrastar os cristãos que cederam ao cansaço ou que até abandonaram a Igreja (…). Devemos difundir verdadeiramente o Evangelho de casa em casa, de coração a coração»[1].

 

Nesta Carta Pastoral, o Cardeal Lehmann traça um quadro realista de uma Igreja que parece envelhecida e cansada, mas aponta também, com mestria e clarividência, as coordenadas que devem moldar o rumo do futuro: não basta reformar por fora estruturas e edifícios; é preciso reformar por dentro, mudar o coração, acendê-lo com a luz nova de Cristo e do seu Evangelho.

A Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, n.º 46, de Paulo VI, de 8 de Dezembro de 1975, de depois de falar da importância da pregação feita para todos, refere logo também a validade e a importância da transmissão «de pessoa para pessoa». E a Nota Pastoral da Conferência Episcopal Italiana, intitulada O rosto missionário das paróquias num mundo em mudança (n.º 6), de 30 de Maio de 2004[2], acentua que «para a evangelização é essencial a comunicação de crente para crente, de pessoa a pessoa», aspecto que volta a ser salientado na recente Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização, n.º 11, da Congregação para a Doutrina da Fé, de 3 de Dezembro de 2007[3].

No mesmo sentido, na cerimónia de encerramento do Congresso Internacional realizado em Roma, de 09 a 11 de Março de 2006, para celebrar e reflectir sobre o Decreto Conciliar Ad Gentes, no quadragésimo ano da sua promulgação (07 de Dezembro de 1965), referiu o Papa Bento XVI, entre outras coisas, que:

 

 

«Não são, de facto, somente os povos não-cristãos e as terras distantes, mas também os âmbitos sócio-culturais, e, principalmente os corações, os verdadeiros destinatários da actividade missionária do Povo de Deus».

 

E, nas palavras proferidas antes da Oração do Angelus do 80.º Dia Missionário Mundial (22.10.2006), Bento XVI acentuou esta dinâmica afirmando agora que «A missão parte do coração». Leia o resto deste artigo »


PAULO, MODELO DE EVANGELIZADOR (11)

Fevereiro 1, 2009

11. A viagem da «comunhão»

Enviada, provavelmente desde Filipos, a «Carta da reconciliação» ou da «consolação», Paulo segue logo também para Corinto, naquela que se pode chamar «a viagem da reconciliação». De Corinto escreverá, talvez no inverno de 55/56, a grande Carta aos Romanos, o seu último escrito autêntico e seu testamento espiritual. Nessa Carta, Paulo refere que deu por terminada a sua missão na parte oriental do império (Rm 15,19 e 23), e que, antes de se dirigir a Roma e mesmo à Espanha (Rm 15,23-24 e 28), se prepara agora para partir para Jerusalém na mais arriscada das suas viagens. Viagem histórico-geográfica, mas sobretudo eclesial. É a viagem da sua vida: a viagem da comunhão das igrejas em Cristo, quer as oriundas do judaísmo quer as oriundas do paganismo. É pela fé em Cristo que todos, judeus e gentios, são justificados [= transformados por Deus de pecadores em justos] e salvos. A Carta aos Romanos é, portanto, a magna carta da unidade e da liberdade das igrejas em Cristo. Último escrito saído da mão de Paulo, obra madura, amadurecida nas esperanças e nas dores, súmula das suas cartas anteriores (1 Ts, Gl, Fl, 1 Cor, 2 Cor, Flm) e de todas elas a mais extensa (7101 palavras) e completa, a Epístola aos Romanos pode considerar-se também o seu testamento. De facto, Paulo vive, anuncia, ensina e escreve a unidade e a liberdade de todos em Cristo, e é por esta realidade que dará a vida.

Na verdade, Paulo tem consciência de que o projecto que o espera é decisivo e arriscado: ir a Jerusalém entregar o fruto da «colecta» (logeía) – termo só usado aqui em todo o NT, e que significa «colecta de dinheiro»[1] –, mas que é significativamente dita o mais das vezes «comunhão» (koinônía) (Rm 15,26; 2 Cor 8,4; 9,13; cf. Fl 4,15)[2], verdadeiro hápax phainómenon no cristianismo antigo[3], ou «serviço» (diakonía) (Rm 15,25.31; 2 Cor 8,4; 9,1.12.13) ou «graça» (cháris) (1 Cor 16,3; 2 Cor 8,7)[4]. Note-se ainda a articulação da «graça» com o «serviço» na belíssima locução «a graça servida por nós» (hê cháris hê diakonouménê hyph’ hêmôn) (2 Cor 8,18), a que já atrás fizemos referência[5]. Receberá ainda os nomes significativos de «bênção» (eulogía) (2 Cor 9,5) e «liturgia» (leitourgía) (2 Cor 9,12)[6]. De facto, Paulo partirá de Corinto para Jerusalém, provavelmente na primavera de 56, e faz-se acompanhar, também significativamente, de uma delegação de representantes das Igrejas por ele fundadas na Grécia (Acaia), na Macedónia e na Ásia Menor (Act 20,4). Com tal procedimento, o que Paulo está, na verdade, para empreender agora é a viagem da sua vida, a «viagem da comunhão», da unidade das Igrejas em Cristo. E uma questão paira no espírito do Apóstolo: como é que a Igreja-mãe de Jerusalém, acentuadamente judeo-cristã, acolherá a «colecta» das Igrejas da gentilidade? Aceitará ou denunciará a «comunhão»? Consciente das dificuldades e manifestando grande apreensão, Paulo pede aos cristãos de Roma que «lutem com ele na oração» pelo bom resultado desta viagem (Rm 15,30-31).

Como sabemos, Paulo será preso em Jerusalém. Daqui seguirá para Cesareia e para Roma, onde dará a sua vida por Cristo e pela unidade das Igrejas em Cristo.

(continua no próximo post)

António Couto


[1] A. C. THISELTON, The First Epistle to the Corinthians, p. 1318.

[2] O termo koinônía encontra-se apenas três vezes nos LXX, e parece ter sido introduzido por Paulo no vocabulário cristão, para referir a intimidade do amor existente na comunidade cristã, que expressa uma comunhão vertical e horizontal que supera todos os calculismos e institui um habitat fraternal permanente de doadores e de recebedores. Encontra-se 134 vezes no corpus paulinum, e apenas 19 vezes no resto do NT. S. LÉGASSE, L’Épître de Paul aux Romains, p. 934, nota 42; D. J. MOO, The Epistle to the Romans, p. 903; A. WODKA, Una teologia bíblica del dare nel contesto della colletta paolina (2 Cor 8-9), p. 168-170.

[3] A. WODKA, Una teologia bíblica del dare nel contesto della colletta paolina (2 Cor 8-9), p. 18-19.

[4] A. C. THISELTON, The First Epistle to the Corinthians, p. 1318.

[5] Atrás, ponto 7.

[6] A. C. THISELTON, The First Epistle to the Corinthians, p. 1318.