COMO EU VOS AMEI

Abril 27, 2013

1. No tempo de Jesus, o panorama do judaísmo palestinense era dominado por duas escolsas: a escola conservadora e rigorista de Shamai e a escola liberal de Hillel.

 2. Conta-se que, um dia, um homem se terá apresentado na escola de Shamai, e fez ao mestre um estranho pedido: «quero que, enquanto eu me mantiver apenas com um pé no chão, tu me expliques toda a Lei». Diz-se que Shamai se limitou a pegar na sua vara de mestre e a correr o homem pela porta fora, pois era óbvio que o homem fazia um pedido impossível de cumprir, tal era a vastidão da Lei. Mas o homem não desanimou e dirigiu-se à escola de Hillel, a quem formulou o mesmo pedido. E Hillel terá respondido de pronto: «Nada mais fácil: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti!”».

 3. A esta sentença de Hillel, na sua formulação negativa, deu-se o nome de «regra de ouro». Em boa verdade, ela já aparece no Livro de Tobias 4,15. É, todavia, fácil de verificar, que esta sentença é de fácil cumprimento. Dado que o seu teor é negativo, para a cumprir, basta a alguém cruzar os braços e nada fazer. Procedendo assim, nada fará de inconveniente a ninguém, cumprindo assim escrupulosamente a sentença.

 4. Tentando talvez evitar a inacção acoitada na formulação negativa anterior, os Evangelhos apresentam desta máxima uma formulação positiva: «Faz aos outros o que queres que te façam ti!» (Mateus 7,12; Lucas 6,31). Levando a sério esta formulação, já não é suficiente jogar à defesa e nada fazer, mas é requerido o fazer. Seja como for, as duas formulações apresentadas, quer a negativa quer a positiva, padecem do mesmo vício: sou eu o centro, é à minha volta que tudo roda, e o que eu faço ou deixo de fazer é com o objectivo claro de que me seja retribuído outro tanto!

 5. O tom positivo da referida «regra de ouro» recebe ainda outra bem conhecida formulação: «Ama o teu próximo como a ti mesmo!», que atravessa a inteira Escritura: Levítico 19,18; Mateus 22,39; Romanos 13,9; Gálatas 5,14; Tiago 2,8. Mas também esta formulação é perigosa: primeiro, porque eu continuo o ser o centro, a medida do amor aos outros; segundo, porque, se alguém não se ama a si mesmo (e são, infelizmente, cada vez mais os casos!), como poderá cumprir devidamente esta máxima?

 6. É aqui que cai, como uma lâmina, a força do Evangelho de Jesus, proclamado, por graça, neste Domingo V da Páscoa (João 13,31-34): «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei!» (João 13,34), precedido por aquele precioso e carinhoso diminuitivo «filhinhos» (teknía), só aqui, esta única vez, colocado nos lábios de Jesus. Aqui, a medida não sou eu. Aqui, a medida é Jesus. Aqui, a medida é sem medida! Aqui, o amor não é interesseiro. Aqui, o amor é puro, radical, incondicional, assimétrico, sem retorno. Aqui, o amor é até ao fim, e obriga-nos a ter sempre como referência o Senhor Jesus e o seu modo de viver, dando a vida por amor, para sempre e para todos!

 7. A lição do Livro dos Actos dos Apóstolos (14,21-27) põe outra vez diante de nós a viagem transitiva e intransitiva que a graça de Deus nos faz fazer (Actos 14,26), e de que resulta a narrativa de tudo o que Deus fez connosco (Actos 14,27) e com os pagãos, abrindo-lhes a porta da fé (Actos 14,27). É esta expressão que dá o título à Carta Apostólica Porta Fidei [«A Porta da Fé»] com que Bento XVI quis marcar o Ano da Fé que estamos a viver.

 8. Notável a lição do Livro do Apocalipse (21,1-5). Mundo novo, com Deus, Ele mesmo, a habitar no meio de nós, verdadeiro Emanuel, que acariciará o nosso rosto e enxugará as nossas lágrimas. Se o Emanuel habitará connosco, desaparecerão a morte, o luto, os gemidos, a dor, e também o mar que, no mundo bíblico, aparece como símbolo do caos e do mal.

António Couto

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TANTA DEDICAÇÃO

Abril 20, 2013

 

1. O selêucida Antíoco IV Epifânio tinha profanado o Templo de Jerusalém em 167 a.C., introduzindo lá cultos pagãos. Contra esta helenização e paganização do judaísmo lutaram os Macabeus, e, em 164 a.C., Judas Macabeu procede à purificação do Templo e à sua Dedicação ao Deus Vivo. Este acontecimento deve ser celebrado todos os anos, durante oito dias, com a Festa da Dedicação, a partir de 25 do mês de Kisleu, que, no ano em curso de 2013, corresponde ao nosso dia 28 de Novembro.

 2. É no ambiente desta Festa anual da Dedicação do Templo que se situa a perícope do Evangelho de João 10,27-30 (veja-se João 10,22), proclamada neste Domingo IV da Páscoa, também Domingo do Bom Pastor e 50.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, sob o tema, proposto ainda por Bento XVI: «As Vocações, sinal da esperança fundada na fé». Nesta mensagem, Bento XVI evoca a radiomensagem de Paulo VI, de 11 de Abril de 1964, que deu início a este Dia Mundial de Oração pelas Vocações, e refere que as Vocações são um indicador seguro da vitalidade da fé e do amor de cada comunidade paroquial e diocesana, bem como o testemunho da saúde moral e espiritual das famílias cristãs, num mundo carente de mãos sacerdotais.

 3. A Festa da Dedicação, em hebraico hanûkkah, celebra-se durante oito dias, e tem como símbolo o candelabro de oito braços. Relata o Talmud que, quando os judeus fiéis entraram no Templo profanado pelos pagãos helenistas, encontraram uma única âmbula de azeite puro (kasher) de oliveira para reacender o candelabro de sete braços, em hebraico menôrah, que é um dos símbolos de Israel, e que deve arder diante do Deus Vivo. Todavia, uma âmbula de azeite duraria apenas um dia, e eram precisos oito dias para preparar novo azeite puro. Pois bem, o azeite daquela única âmbula durou milagrosamente oito dias! Daí que, na Festa da Dedicação, se acenda um candelabro de oito braços, chamado hanûkkiah. Mas acende-se apenas uma luz por dia, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até estarem acesas as oito luzes. Além disso, e ao contrário das luzes da menôrah e do Sábado, que alumiam o interior do Santuário e da casa de família respectivamente, as Luzes do candelabro da Dedicação, refere o ritual, devem ser vistas cá fora: devem alumiar o ambiente social, político, comercial e cultural. E também ao contrário das luzes da menôrah e do Sábado, não se acendem todas de uma vez, mas progressivamente uma por dia, porque, quando as condições são adversas (paganismo helenista e escuro), não basta acender uma luz e mantê-la; é preciso aumentar constantemente a luz…

 4. Como este simbolismo é importante para os dias de hoje! Está escuro cá dentro e lá fora, o mundo parece descontruir-se, o paganismo é galopante! Mais do que nunca, é preciso, portanto, não apenas manter a luz, mas aumentá-la progressivante. E está em maravilhosa sintonia com a mensagem de Bento XVI para este 50.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, salientando a importância da fé e da esperança.

 5. O resto é a força e a beleza da imagem do Bom e Belo Pastor, que dá a Vida Eterna às suas ovelhas, que as segura pela mão, que as conhece, enquanto elas escutam a voz do Bom Pastor e o seguem. Maravilhosa Comunhão.

 6. Maravilhosa Comunhão também entre este Bom e Belo Pastor, que é o Filho, e o Pai. Texto denso, imenso e intenso, de grande alcance trinitário: «Eu e o Pai uma Realidade somos». Deixem-me pôr aqui o texto grego: egô kaì ho patêr hén esmen. O verbo está no plural: somos. Junta «Eu» e «o Pai», duas Pessoas. O predicativo, porém, não está na forma masculina, mas na forma neutra: uma Realidade (hén). Donde: o Filho e o Pai não são uma só Pessoa, mas são uma única Realidade (não coisa!, como se vê em algumas pobres traduções), uma única Substância (ousía), como diziam bem os Padres gregos. Um único e mesmo Amor que corre entre o Pai e o Filho, entre o filho e o Pai, circularmente, sem parar. Este Dom de Amor circular permanente e imperecível, constitui o Espírito Santo, distinto do Pai e do Filho, dos quais procede, mas distinto também do acto da doação, de que é o efeito e a significação. Se fosse o acto da doação não constituiria uma pessoa subsistente, pois não existiria como tal: seria a soma de duas pessoas, não uma terceira. seriaÓ música insondável do Amor de Deus, ó admirável comunhão de três Pessoas iguais, mas distintas, ó Vida Plena e Verdadeira a nós acessível por graça! Basta, para tanto, conhecer, escutar e seguir o Bom Pastor.

 7. O Livro dos Actos dos Apóstolos (Act 13,14-32) continua a mostrar como o Evangelho vai ao encontro de toda a humanidade. Extraordinária abertura ao extrangeiro dos Evangelizadores Novo Testamento, que trilham os caminhos de Deus, já apontados no Antigo Testamento. Diz Deus: «Bendito seja o Egipto, meu povo, a Assíria, obra das minhas mãos, e Israel, minha herança» (Isaías 19,25).

 8. Este universalismo continua a ler-se no Apocalipse (7,9-17) com aquela imensa Assembleia de louvor ao nosso Deus e ao Cordeiro. Os membros desta Assembleia provêm de todas as nações, raças, culturas, línguas, racionalidades.

 9. Mas no paladar fica ainda e sempre o sabor do Salmo 23: «O Senhor é o meu Pastor: nada me falta…».

António Couto


PEDRO, O LUME NOVO, A REFEIÇÃO NOVA, O AMOR MAIOR

Abril 13, 2013

 

1. A oposição luz – trevas atravessa de lés a lés o inteiro texto do IV Evangelho. A Luz verdadeira que vem a este mundo para iluminar todos os homens é Jesus (João 1,9). Sem esta Luz que é Jesus, andamos às escuras, na noite, na dor, no fracasso, na incompreensão. É assim, narrativamente – e, portanto, exemplarmente, para nós, leitores –, com Nicodemos, que anda de noite (João 3,2), com Judas, o homem da noite que tudo anoitece à sua volta  (João 13,30; 18,3), com os sete dicípulos da cena de hoje que trabalharam toda a noite, sem sucesso (João 21,3).

 2. Mas Jesus aparece de madrugada na praia, no limiar do dia e da alegria, aqui perto, a cem metros de nós. Com os olhos embotados pela doença do escuro, não O reconhecemos à primeira. Mas ouvimos a Sua voz carregada de verdade, que nos desvenda («Não tendes nada para comer, pois não?» (João 21,5) e nos aponta rumos verdadeiros («Lançai a rede para a direita da barca, e encontrareis») (João 21,6). Não o reconhecemos à primeira. Mas vemos e lemos os Sinais. «É o Senhor», diz para Pedro o discípulo, aquele que Jesus amava (João 21,7). E Pedro correu na direcção de Jesus. Os outros seis vieram também, arrastando a barca carregada de peixes.

 3. E sobre a praia o lume novo e a refeição nova, cuidadosamente preparada por Jesus (João 21,9). Agora Pedro está no lugar certo, com Jesus, e aquece-se no lume vivo, que é Jesus. Belo e exemplar contraponto: pouco antes, narrativamente falando, Pedro estava com os guardas, que andavam na noite, e aquecia-se a outro lume, aceso na noite, pelos guardas (João 18,18). Tinha rompido a sua intimidade com Jesus. Mas agora arrasta a rede cheia com 153 grandes peixes. E o narrador refere, chamando a nossa atenção, que, embora fossem muitos, a rede não se rompeu (João 21,11). «Romper» traduz o verbo grego schízô, donde vem etimologicamente «cisma». É, portanto, de comunhão e de unidade que se trata, e não de «cismas», dissensões, divisões. O número 153 ajuda a ler esta «comunhão», se quisermos ver nesse número a gematria, ou tradução em números, da locução hebraica qahal ha’ahabah [= «comunidade do amor»], excelente maneira de dizer a realidade nova e bela da Igreja.

 4. E é sobre o amor o diálogo que se segue entre Jesus e Pedro: «Pedro, amas-me mais…?», pergunta Jesus por três vezes. E por três vezes Pedro responde que sim, ouvindo de Jesus, também por três vezes a nova missão de «Pastor» que lhe é confiada: «Apascenta as minhas ovelhas» (João 21,15-17). Entenda-se bem que as ovelhas nunca deixam de ser pertença de Jesus Ressuscitado. E a afirmação por três vezes do amor de Pedro a Jesus recompõe a intimidade rompida por Pedro com aquelas três negações um pouco antes narradas (João 18,17-27).

 5. Senhor, ensina a tua Igreja de hoje outra vez a ver e a ler os Sinais da Tua presença na madrugada e na praia, novo limiar de luz e de esperança que orienta a nossa vida toda para Ti, referência fundamental do amor e da comunhão que deve unir como uma rede a Tua Igreja. Precede-nos e preside-nos sempre. Não nos deixes perdidos no nevoeiro e na confusão, na noite e no frio, a orientar-nos por outro farol, a aquecer-nos a outro lume. Faz que reconheçamos sempre a Tua voz de Único Verdadeiro Pastor, e ampara os pastores que incumbiste de apascentar as tuas ovelhas.

 6. A lição do Livro dos Actos dos Apóstolos (5,27-41) mostra-nos os Apóstolos como testemunhas do Ressuscitdo. Chios do Espírito Santo, intrépidos, sem medo, e com alegria grande, enchem Jerusalém com o nome de Jesus. Extraordinária provocação para nós, que temos tanta cidade e tantos corações â nossa espera.

 7. Jesus é a testemunha fiel (Apocalipse 1,5), porque diz o que ouviu dizer ao Pai e faz o que viu fazer ao Pai. Por isso, todas as criaturas o aclamam, como refere a lição de hoje do Livro do Apocalipse (5,11-14).

António Couto


TOMÉ, CHAMADO «GÉMEO»

Abril 6, 2013

 

1. Novos percursos se abrem, e é aqui que se inicia o Evangelho do Domingo II da Páscoa (João 20,19-31), que o Papa João Paulo II, em 30 de Abril do ano 2000, consagrou como «Domingo da Divina Misericórdia». Os discípulos estão num lugar, com as portas fechadas, por medo dos judeus. O Ressuscitado, vida nova e modo novo de estar presente, que nada nem ninguém pode reter, vem e fica no MEIO deles, o lugar da Presidência, e saúda-os: «A paz convosco!». Mostra-lhes as mãos e o lado, sinais que identificam o Ressuscitado com o crucificado, e agrafa-os à sua missão: «Como o Pai me enviou (apéstalken: perf. de apostéllô), também Eu vos mando ir (pémpô)». O envio d’Ele está no tempo perfeito (é para sempre): está sempre em missão; o nosso está no presente, e passa. O presente da nossa missão aparece, portanto, agrafado à missão de Jesus, e não faz sentido sem ela e sem Ele. Nós implicados e imbricados n’Ele e na missão d’Ele, sabendo nós que Ele está connosco todos os dias (cf. Mateus 28,20). É-nos dito que os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem (idóntes: part. aor2 de horáô) com um olhar histórico (tempo aoristo) o Senhor. Tal como o Outro Discípulo (João 20,8), também eles vêm com um olhar histórico (tempo aoristo) a identidade do Senhor. O sopro de Jesus sobre eles é o sopro criador (emphysáô), com o Espírito, para a missão frágil-forte do Perdão. Este sopro só aparece aqui em todo o Novo Testamento! Mas não é difícil construir uma bela ponte para Génesis 2,7, para o sopro ou alento (napah TM / emphysáô LXX) criador de Deus no rosto do homem.

 2. O narrador informa-nos logo a seguir que, afinal, Tomé (Toma’), chamado Gémeo (Dídymos), não estava com eles quando veio Jesus. Dídymos é, na verdade, a tradução literal em grego do aramaico Toma’ [= «Gémeo»]. Mas os outros diziam-lhe repetidamente (élegon: imperf. de légô), imperfeito de duração), com a mesma linguagem da Madalena, mas no plural: «Vimos (heôrákamen: perf. de horáô) o Senhor!» (João 20,25). Portanto, também eles são testemunhas, pois viram e continuam a ver o Senhor, de acordo com o tempo perfeito do verbo grego. Mas Tomé quer tudo controlado e verificado, ponto por ponto, e refere: «Se eu não vir (ídô: conj. aor2 de horáô) com um olhar histórico (tempo aoristo) nas suas mãos a marca dos cravos, e não meter o meu dedo na marca dos cravos e não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei» (João 20,25).

 3. Novo desarme: oito dias depois, estavam outra vez os discípulos com as portas fechadas (mas o medo já não é mencionado), e Tomé estava com eles. Veio Jesus, ficou no MEIO, saudou-os com a paz, e dirigiu-se logo a Tomé desta maneira: «Traz o teu dedo aqui e (íde: imper. aor2 de horáô) com um olhar histórico (tempo aoristo) as minhas mãos, e traz a tua mão e mete-a no meu lado, e não sejas incrédulo, mas crente!» (João 20,27). Aí está Tomé adivinhado, desvendado e desarmado. Também ele podia ter pensado: «E como é que ele sabia que eu queria fazer aquilo?». Tomé cai aqui, adivinhado e antecipado, precedido por Aquele que nos precede sempre. Não quer tirar mais provas. Diz de imediato: «Meu Senhor e meu Deus!» (João 20,28), uma das mais belas profissões de fé de toda a Escritura. E Jesus diz para ele: «Porque me viste e continuas a ver (heôrakás me), tempo perfeito de horáô, acreditaste e continuas a acreditar (pepísteukas), tempo perfeito de pisteúô; felizes (makárioi) os que, não tendo visto (idóntes: part. aor2 de horáô) com um olhar histórico (tempo aoristo), acreditaram (pisteúsantes: part. aor. de pisteúô)!» (João 20,29), tempo aoristo. Esta felicitação é para nós.

 4. Notável o percurso dos Discípulos. Fechados e com medo, viram Jesus entrar e ficar no MEIO deles, sem que as portas e as paredes constituíssem obstáculo. Trocaram o medo pela alegria, e também eles começaram a ver de forma continuada o Senhor e a dizê-lo repetidamente. Notável e exemplar para nós o percurso de Tomé, chamado Gémeo: não estava com a comunidade, tão-pouco aceitou o seu testemunho; queria provas. Mas quando veio Jesus e o adivinhou, precedendo-o e presidindo-o, entregou-se completamente! Tomé, chamado Gémeo! Irmão gémeo! Irmão gémeo de quem? Meu e teu, assim pretende o narrador. De vez em quando, também nós não estamos com a comunidade. Como Tomé, chamado Gémeo. Por vezes, também duvidamos e queremos provas. Como Tomé, chamado Gémeo. Salta à vista que também devemos estar com a comunidade. Como Tomé, chamado Gémeo. E professar convictamente a nossa fé no Ressuscitado que nos preside (no MEIO) e nos precede sempre. Como Tomé, chamado Gémeo.

 5. Aí está outra vez, saído da paleta de tintas do Autor do Livro dos Actos dos Apóstolos, o retrato da Comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas se esforçam por entrar nela (Actos 5,12-16; mas ver também 2,42-45 e 4,32-35), acorrendo de todo o lado.

 6. E o Autor do Livro do Apocalipse desenha também diante de nós a figura sublime do Filho do Homem, O que Vive, porque venceu a morte para sempre, e nos protege sempre, pondo sobre nós a sua mão direita (Apocalipse 1,9-19). Excelente visualização da Divina Misericórdia, milagre aos nossos olhos, amor e bondade sem medida com que o bom Deus enche os nossos dias, as nossas mãos, o nosso coração, os nossos passos, como hoje cantamos no belo Salmo 118.

António Couto