Quem é a pessoa mais feliz do mundo?

Agosto 5, 2008

 

  

1. Conheci em Janeiro de 2004, num simpósio efectuado na Tailândia, um velho missionário católico americano, de seu nome Bob McCahill, dos missionários de Maryknoll, que trabalha no Bangladesh desde 1975. O Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo, e a sua população é maioritariamente muçulmana.

 

2. Bob McCahill escolheu viver entre estes muçulmanos pobres, os mais pobres de entre os pobres. Pouco lhe importa a religião que professam. Escolheu viver pobre no meio deles. Mora, como eles, numa barraca de bambu. Convive com eles. Fala com eles. Conforta os doentes e tudo faz, quando necessário, para lhes proporcionar a devida assistência hospitalar. Sente-se feliz por poder estar ao serviço dos pobres, levando-lhes um pouco de alegria.

 

3. Antes de iniciar este já longo serviço de amor no Bangladesh, Bob McCahill experimentou a resignação dos pobres e doentes que, face à miséria e ao sofrimento, se refugiam no «não há nada a fazer», sentiu a força das lágrimas de alegria de uma criança pobre perante um gesto de misericórdia, percebeu bem o jovem Habib que não acreditava que houvesse alguém desinteressado, que fizesse o bem pelo bem, sem outros objectivos, compreendeu o verdadeiro alcance dos conselhos que Mahatma Gandhi dava aos missionários católicos que trabalhavam na Índia com o objectivo primeiro de converter as pessoas à religião católica. Gandhi nutria um grande amor por Jesus, considerava o Sermão da Montanha um dos mais belos textos que alguma vez tinha lido, e admirava muito o trabalho dos missionários que via trabalhar na Índia, ainda que discordasse da sua metodologia virada para a conversão. Gandhi pensava que os missionários se deviam pôr simplesmente ao serviço dos pobres, sem olhar à sua religião, e que não se deviam preocupar em fazer longos discursos com a intenção de os converter. Gandhi dizia: «Sê como a rosa. A rosa é bela pelo simples facto de olharmos para ela. Procura viver no meio de nós simplesmente servindo».

 

4. Da sabedoria de Gandhi, Bob McCahill recolheu uma máxima que acabaria por adoptar como seu lema de vida: «Uma vida de serviço e da máxima simplicidade é a melhor pregação!» E, de 1975 para cá, Bob McCahill tem gastado a sua vida a servir humildemente aquele povo pobre. Nunca fez um sermão. Ninguém o vê rezar. Só o vêem servir com alegria. E aquele povo pobre pergunta-se: «Quem é este americano?» «Porque veio viver para o meio de nós?» E ele vai respondendo que só procura viver como Cristo viveu, servindo. E que é feliz assim.

 

5. Bob McCahill, hoje com mais de 80 anos, proferiu uma interessante conferência, em 2000, no Congresso Missionário das Filipinas. E começou assim: «Quero começar fazendo uma pergunta: “Quem é a pessoa mais feliz do mundo que vós conheceis? Pensai um bocadinho. A pessoa mais feliz do mundo”». E continuou:  «Por acaso, alguma das pessoas presentes chegou à conclusão de que é a pessoa mais feliz do mundo? Se sim, fico muito contente por isso. Mas quero dizer-vos que eu também penso que sou a pessoa mais feliz do mundo. E não se trata do tipo de felicidade de quem ande sempre a rir-se. É a felicidade da Paz e da harmonia, da simplicidade e do serviço humilde. Esta felicidade é minha, porque me sinto um privilegiado por trabalhar com os pobres, por ser útil aos muçulmanos pobres do Bangladesh».

 

6. Felicidade, coisa tão rara nos tempos que correm. No meio das guerras e desavenças que avassalam o nosso mundo, aí fica um belo testemunho de paz, harmonia e felicidade, meu irmão de Agosto. Boas férias.

 

António Couto