1. Aí está outra vez Jesus no meio da multidão, em dia de Domingo, no Evangelho de Marcos 5,21-43. E, para a mulher que sofria de um fluxo de sangue, que há doze anos a tornava impura e distante de Deus e das pessoas, e que acaba de ser curada pela sua ousadia e fé e confiança, Jesus diz uma palavra única – única vez dita no Evangelho no feminino! –, carregada de imensa ternura, proximidade e familiaridade: «Minha filha!» (Marcos 5,34). Esta pobre mulher sofredora e humilhada é agraciada por Jesus e passa a fazer parte da sua família: «Minha filha!».
2. Mas estava uma menina de doze anos, moribunda, à espera da morte… ou de Jesus. O seu pai, Jairo, luta pela vida da sua filhinha, e veio buscar Jesus para ir a sua casa impor as suas mãos de bênção, portanto, de bem e de cura, sobre a sua filhinha. Todavia, enquanto caminham, chegam os seus criados, que trazem a triste notícia de que a morte chegou a casa da menina antes de Jesus. Aquele pai fica certamente destroçado, como o estavam também os demais familiares e os vizinhos, que, em tais circunstâncias, apenas sabiam chorar.
3. Mas Jesus nunca chega atrasado. Ele é o Senhor. Entra naquela casa e pega terna e soberanamente na mão da menina. Note-se o número pleno de sete pessoas presentes: Jesus, Pedro, Tiago e João, o pai e a mãe da menina, e a menina. A plenitude quebra a nossa planitude! Pegando ternamente na mão da menina, Jesus diz, em aramaico, língua materna de Jesus e da menina: «Talitha, qûm!» [= menina, filha, irmã, levanta-te!] (Marcos 5,41). Não passa despercebido que Jesus trata aquela menina ternamente por irmã, irmãzinha, sua irmã querida. Na verdade, o aramaico Talitha é o feminino de Talya. E o aramaico Talya é a mais bela e significativa palavra para dizer Jesus, pois significa «filho», «servo», «cordeiro», «pão». Como se vê, Talya diz o Jesus todo. E Ele é a vida verdadeira, ressuscitada, levantada, que ressuscita e que levanta.
4. Como se vê, trata-se de duas cenas únicas e belíssimas, cheias, plenas de humanidade e divindade. Passa, Senhor Jesus, à nossa porta, entra em nossa casa, veste o nosso dorido coração de festa. Faz-nos sentir que somos teus filhos e irmãos queridos. E que as nossas lágrimas de dor podem transformar-se em lágrimas de amor!
António Couto