MARIA E SANTO ANTÓNIO DE LISBOA

Junho 12, 2024

1. Maria e Santo António de Lisboa. Maria aparece muitas vezes, na iconografia, com o Menino nos braços e um olhar de graça suavemente iluminado. O movimento dos braços mostra a ternura maternal de quem embala e segura o Menino Jesus, ou a alegria evangelizadora de quem apresenta e oferece Jesus a este mundo, reclamando de cada um de nós mãos carinhosas e seguras, coração maternal, olhar de graça.

2. Santo António nasceu em Lisboa, provavelmente em 1195, e faleceu em Pádua em 1231. Viveu apenas trinta e seis anos, mas foi o bastante para encher este mundo da beleza e das maravilhas de Deus. É fácil ler, no contexto da iconografia, uma grande cumplicidade entre Maria e Santo António de Lisboa, de Pádua ou de todo o mundo. Vê-se bem que também Santo António aparece com o Menino nos braços: umas vezes, segurando Jesus com os dois braços; outras vezes, com um braço segurando Jesus, e no outro ostentando um livro, o Livro, o Livro da Palavra de Deus, que tão bem viveu e tão bem soube dizer; outras vezes ainda, ostentando Jesus sentado sobre o Livro, Senhor do Livro, como o Anjo do Evangelho de Mateus sentado sobre a pedra do sepulcro (Mateus 28,2). Mas pode entender-se também Jesus a brincar com o Livro, o brinquedo preferido de Santo António e o seu também. Belíssimas fulgurações de amor e luz. Maria olhando pelo Menino Jesus ou convidando-nos a olhar pelo Menino Jesus. Santo António de Lisboa ostentando o Menino Jesus e o Livro, mostrando bem com que amor soube ler a Escritura, e convidando-nos a acolher o Menino que atravessa em contraluz toda a Escritura, e a ler a Escritura em contraluz acolhendo em cada página, não apenas sons e sílabas e palavras e frases, mas um Rosto e um Nome, JESUS.

3. Maria e Santo António de Lisboa. Os dois com o Menino Jesus nos braços e no coração, nas entranhas, nos lábios, nas mãos, nos pés, na vida. Eles tomaram conta de Jesus com amor, tomaram conta do amor. Ou foi o amor que tomou conta deles? Na verdade, são eles que seguram Jesus, ou é Jesus que os segura a eles? Somos nós que seguramos a Palavra de Deus, ou é a Palavra de Deus que nos segura a nós? Frágil, forte segurança, a segurança-confiança do amor, forte como a morte o amor (Cântico dos Cânticos 8,6).

4. É por esta imagem de um Menino ao colo de uma Mãe, seguro-confiante na força do amor maternal que cuida dele sempre, que, em termos bíblicos, entramos no caminho da Verdade (J. Goldstain, Le monde des psaumes, Paris, Source, 1964, p. 391 e 393). Verdade, na Bíblia hebraica, diz-se ’emet, cuja etimologia remete para segurança, firmeza, confiança (’emunah, ’aman, ’amen), em última análise, para “mãe” (՚em). Diz então o Livro que Santo António segura no braço com o Menino em cima, que o lugar mais verdadeiro do mundo, portanto, a maior fonte de segurança do mundo, são os braços de uma Mãe ou de um Pai que ternamente seguram um bebé.

5. A verdade é, portanto, a verdade do Amor que não engana, o mais puro amor que existe. A analogia do amor materno e paterno abre para Deus, que o mesmo Livro diz que ama com amor perfeito. S. Paulo dirige-se a nós desta maneira, ao escrever as primeiras linhas da primeira página do Novo Testamento:

«Irmãos AMADOS por Deus (êgapêménoi hypò [toû] theoû)» (1 Tessalonicenses 1,4).

A locução «AMADOS» apresenta-se no tempo perfeito passivo (êgapêménoi: part. perf. passivo de agapáô), e traduz, portanto, um amor novo, vindo de Deus (passivo divino ou teológico), que começou a amar e a amar continua ainda hoje, e assim será sempre, pois é esse o sentido do perfeito grego.

6. É por isso que Deus, amor-perfeito e permanente – o mesmo ontem, hoje, amanhã e sempre (Hebreus 13,8) –, não mente, não engana, não trai, não seduz. Ele é a Sabedoria, Ele é a luz. Ele chama, Ele ama, Ele dá a Sabedoria, Ele alumia. Ele vigia. A nossa luz é reflexa, a nossa sabedoria é recebida, recebido é o amor com que amamos. Não o amor da sabedoria. Mas a sabedoria do amor. «Deus governa o mundo com as palmas das suas mãos» (Ben Sira 18,3), em que está tatuado o nosso rosto e o nosso nome (Isaías 49,16), e tem sempre as suas «mãos abertas sobre nós» (Salmo 139,5). Mãos de amor. Mãos de bênção e proteção.

7. Como Maria e como Santo António, experimentemos também viver de coração aberto e de mãos abertas para acolher e saborear o dom de Deus (Hebreus 6,4) e experimentar a beleza da Palavra de Deus (Hebreus 6,5). Maria e Santo António, com o Livro e o Menino, representam uma nova cultura, não assente na mentira, na esclerose ou dureza do coração, no poder, na violência e na guerra, mas na ternura, no amor, na suavidade e na verdade.

8. Como este mundo de hoje precisa de Maria, Mãe, e de Santo António, nosso padroeiro! Santa Maria, Mãe de Deus e Nossa Mãe, Santo António de Lisboa, nosso padroeiro e companheiro, ensinai-nos a viver entretidos com o Livro da Palavra de Deus e o Menino nos braços e no coração. Amém.

António Couto